29 de nov. de 2010

Old remains #2




O tempo encarregou-se de mudar o mundo ao redor.


Era uma tarde de inverno, as folhas caiam levemente enquanto eles caminhavam por um caminho coberto de neve.

Naquela época os amantes não se importavam com o mundo ao redor... Viviam em função do Amor recíproco.

Engraçado lembrar deste passado... Tudo era feito de uma forma livre, sem posses ou receios. Não se dava suma importância às aparências, era o essencial que tinha o lugar de destaque. O que diziam a respeito do alheio era inútil aos ouvidos... Cada qual cuidava de si mesmo.

O vento soprava livremente por entre as últimas folhas de um pinheiro centenário.

Haviam sentado em um velho banco feito de cedro, banco que os mais antigos diziam ter sido feito por um querubim. Tão antigo e tão especial... Naquela época, os antigos ainda eram respeitados e seus conselhos ouvidos...

E ali, sentados em um banco que contava silenciosamente uma história secular, os amantes permaneceram em constante contemplação. Os olhares cruzavam-se, os lábios tocavam-se... Braços, abraços, embalos.

Suave canção.

Não era o canto dos pássaros; eles já haviam voado ao sul...

Não eram os grilos sob folhas e orvalho; já haviam ido a lugar algum...

Era um canto sutil. Ainda não haviam escutado.

Fecharam os olhos. Cerraram os lábios.

A canção aumentava...

O frio aos poucos foi dissipando-se... O vento já não uivava mais.

E o mundo ao redor foi criando ritmo.

Um ritmo rápido, mas suave...

Quente, mais confortável...

Intenso, mas sutil.

E no silêncio a canção seguia seu fluxo... Saia de um e ia para o outro, reciprocamente.

Ia aumentando, ia crescendo, ia expandindo até que tudo ao redor entrava em uníssono com aquela estranha canção.

Eles abriram os olhos, dentro de si mesmos e lá, onde profano e sagrado são o um e o todo, descobriram a origem da canção...

Vinha um lugar vibrante, quente...Vinha um uma propulsão, de uma emoção, uma circulação...

Quem cantava era o coração.

Luz! Tudo tomou consciência. Tudo foi invadido por enorme admiração.

Naquele instante não haviam caminhos cobertos de neve nem bancos feitos por querubins... Havia um todo. Havia um princípio. Ali havia apenas uma criação.

Mas o tempo, o senhor do ciclo universal, encarregou-se de mudar o mundo ao redor.

Agora recordo velhas lembranças, de uma época onde querubins fabricavam bancos e onde o mundo seguia o ritmo de uma mútua emoção...

Lukas Paula

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