29 de set. de 2011

Abstração

Já não me preocupo mais.
Teu sexo já não me importa.
Nem a transa, nem a fogosidade, nem a loucura bêbada dos morros.
O beijo tornou-se habitual, rotineiro...
Bocas que não fazem sentido, corpos que não geram prazer.
É o tal processo de abstração carnal.
Os excessos são meios de fuga:
Máscaras indissolúveis na imensidão do esconderijo.
Já não me importa a rotina de festas sabáticas regadas de hedonismo corporal.
O hedonismo que me importa está além do que está fora.
É o tal processo de abstração social.
Já não me importa as cantadas baratas, nem as cutucadas ou pedidos de admissão.
Passam sem notabilidade por milhares de faces que nem são.
Já nem me importo com reclamações, indiretas ou frases copiadas.
Ninguém, e eu repito, ninguém sobre mim tem noção.
É o tal processo de abstração.
Esse abstrair onde você deixa o inútil de lado.
Onde o fútil é apenas um meio rápido de desligar-se da racionalidade entediante.
Onde abstrair é sorrir sem motivos...
Cantar sem voz...
Dançar sem som.
Abstrair é sair de você mesmo e encontrar-se face a face consigo mesmo bem longe da solidão.
São palavras ao vento que voam até onde podem chegar.
E pousam em ouvidos distantes, que por estarem em abstração total, podem te escutar...

Lucas A.L. Paula



15 de set. de 2011

Já não era mais uma manhã fria de outono...
Na realidade, em seu íntimo, reinava uma noite escura de inverno.
Não havia o canto dos pássaros.
Não havia luzes de automóveis.
Não havia sussurros dos amantes.
Não havia estrelas nem luar.
Não havia nada exceto uma escuridão, uma solidão, um medo.
Havia saudade, mesmo que dolorida, mesmo que ferida, havia saudade.
Havia perdão, havia desculpas, havia um olhar à espera.
Mas era uma noite escura de inverno.
E tudo o que existia ficava perdido na escuridão porque não podiam encontrar o caminho de volta para o coração.

Walking away...



É uma dor física.
Como você também descreveu, é como se uma mão entrasse pelo peito e apertasse o coração.
Dói, de fazer perder a respiração.
E cada lágrima que escorre, talvez seja aperta o suor do trabalho cansativo que o coração faz para livra-se desse aperto.
Dói e permanece.
Na memória...
Na carne...
Na alma...
Dói tanto que tudo fica instável.
Uma insegurança, um medo, onde qualquer vacilo da corda pode te levar a uma queda.
É uma cicatriz que não se fecha.
É uma ferida que arde em cada movimento.
Estagnada.
Um cravo espetado nos átrios, nos ventrículos.
Um cravo com teu nome, com teu olhar.
É um medo constante...
De não ser amado e, mesmo assim, sozinho amar.


1 de set. de 2011

Parou...

Aconteceu assim, na verdade, mais ou menos assim:

Parou, pensou, ouviu...
No fundo já sabia dos rumos dos cavalos selvagens.
Comparou diversas vezes o coração com cavalos selvagens...
Talvez tenha sido alguma outra literatura que o tenha incentivado.
Talvez tenha sido a metáfora das flores que secam depois de arrancadas e possuídas.
Talvez,
Apenas talvez,
Também quisesse ter sido arrancado deste solo e secar.
Engraçado é como as lágrimas, mesmo salgadas e resolutas, não deixaram a planta murchar.

Parou, pensou, ouviu, gritou, esperneou, ficou louco!
O mundo é louco!
Os turbilhões em si mesmo eram loucos.

-"SAIA" - gritou irrompendo a madrugada sem estrelas.
E saiu. Mas saiu de si mesmo como sempre desejara.

Parou, pensou, ouviu, beijou.
Sorriu.
Bebeu, dançou, girou, seduziu.
Foi a mil.
Parou, riu...
Riu e tornou a dançar.
Caiu, levantou, gargalhou...
Tristes fins não hão de chegar!