6 de mai. de 2011

Águas da vida que correm para o oceano.

Porque são sempre nas frias manhãs de outono que me lembro daquele bosque onde passamos nosso último momento? Talvez seja porque desde então me encontro nevando por dentro...
Mas hoje me resta apenas a memória, sutis lembranças daquele dia que apesar de triste, foi quando pela primeira vez pude também sorrir.
Era domingo.  Havíamos passado a semana toda apenas ouvido nossas vozes pelo telefone.
Confesso que todas as vezes que você me ligava eu corria e pegava aquela foto nossa e, enquanto você me contava sobre seu dia, eu admirava seu rosto no papel.
Enfim, naquele domingo acordei vendo o sol brilhar entre as nuvens que prenunciavam a neve. Na realidade, só eu via o sol...
Fui para o bosque onde costumávamos nos encontrar.
Sentei naquele mesmo velho banco de madeira, à sombra (inexistente) daquele antigo carvalho que já se rompia em pequenas bolotas.
E fiquei...
Fiquei ao som de uma melodia que apenas eu poderia ouvir.
E você chegou. Com os braços abertos e uma rosa na mão. Sentou-se ao meu lado, abraçou-me, me deu um longo beijo e logo após me entregar a rosa disse:
“- Tome-a, agora é sua. Guarde-a porque nela depositei meu coração que hoje entrego para você.”
Acho que você tinha se esquecido que nunca gostei de ganhar flores. Ou talvez havia se lembrado e me entregou aquela rosa, pois sabia que já iria partir.
Eu te dissera uma vez sobre a historia das flores de presente... Elas sempre anunciam a partida.
E eu sorri. Não sei se por nervosismo, por felicidade, por amor... Mas eu sorri!
Então você levantou-se, pegou minha mão e caminhou ao lado enquanto me contava sobre a história daquele bosque.
Paramos na margem do córrego que certa vez molhamos nossos pés naquele verão.
Estava frio. E mesmo assim você pediu que eu também tirasse o sapato porque queria que novamente andássemos por aquele córrego.
Sabia que era sua última vontade. E a fiz.
E assim como as águas correm sempre para o oceano, sabemos que nossas vidas um dia voltaram também para o universo do qual viemos.
Eu só não queria que essas águas retornassem ao oceano no mesmo dia onde pela primeira vez eu dissera: ‘te amo’.

Lucas A. L Paula

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